'Era uma vez...' ou 'Onde o Rui Vilhena foi buscar inspiração para a Fátima da novela da noite'
Postadinho por Ana Sofia por volta das 1:40 da tardeEm regime exclusivo, a notícia que me garantiu a entrada nesta sociedade.
Era uma vez uma sifada (sim, sifada, o nome dado a uma candidata a fada) chamada Allebirolf, Alle para os amigos, que era brilhante sob todos os apectos... excepto sob a categoria mais importante no mundo das fadas: não possuía o mínimo talento artístico! Durante todo o seu processo de aprendizagem no Colégio das Sifadas sempre tivera conseguido através dos maiores esquemas e subterfúgios lógicos contornar essa questão, dedicando-se 26 horas por dia ao estudo. Conseguia dominar inclusivamente o Encantamento de Tempo que lhe dava essas horinhas extra, arte das Fadas de suma mestria que lhes tivera sido ensinada há muitos, muitos anos pelos alunos de uma tal faculdade de nome IST para os quais tal encanto era trivial e usado todos os dias, sem nunca no entanto ter conseguido transformar uma mosca numa borboleta branca como qualquer sifadinha de cinco anos. Ainda agora ela quer acreditar que a traça que obtia não era assim tão diferente da borboleta branca - assim como provou à professora por meio de uma demonstração matemática, que não teve outra alternativa senão aceitar face a ameaça daquele papel - desde há muito tempo que é sabido que a matemática deixa as pessoas e fadas normais fora da posse das suas faculdades mentais.
E assim tinha ela conseguido chegar ao seu último ano no Colégio das Sifadas, e deixar cair aquele irritante 'si' tornando-se numa fada a sério estava a um exame de distância. Tanto ela treinou, mas sempre falhou redondamente. As suas amigas abandonaram-na na época de preparação para o exame. O conteúdo do exame era conhecido e era o mesmo todos os anos, mas ela sabia que nunca conseguiria transformar aquela gaja Cinderela Qualquer Coisa numa princesa, quanto mais suster o encantamento para além da meia-noite, requisito para tirar 20.
Ela tentou falar com a Directora, explicando a sua situação. Assim e com a ajuda de Sócrates foi ela dizer que, apesar da falta de faro artístico, o seu amplo conhecimento em diversas áreas poderia ser útil á comunidade das fadas, sugerindo mesmo que o conceito de fada poderia ser alargado de modo a dinamizar o Mundo das Fadas tornando-o consequentemente mais competitivo no mercado mundial.
A Directora engoliu a conversa e propôs-lhe um verdadeiro desafio: se conseguisse fazer um encantamento permenante deveras extraordinário no seio da comunidade dos Mestres que lhes ensinaram o Encantamento de Tempo, seria admitida. A nossa sifada deu um pulo de êxtase: afinal havia uma hipótese!
E Allebirolf, Alle para os amigos, esfregava à saída lentamente as mãos uma na outra: conhecia aquele local e já sabia o que havia de fazer...
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Havia em tempos no Instituto Superior Técnico uma Auxiliar de Acção Educativa, de seu nome Rosa Maria da Silva, típica empregada da limpeza com a sua batinha verde pinho, com a sua revista Maria, companheira de todas as horas, com as suas oito horas de serviço da 9 às 5 segunda à sexta passadas a dizer cobras e lagartos dos estudantes, na sua voz tendencialmente estridente. De idade avançada, pouco lhe faltava para a reforma e nestas alturas ela sentia mais tendência para reflectir sobre a vida.
Pensava como teria sido se tivesse ido além do sexto ano. Gostava de saber a sensação de estar num daqueles palcos de madeira dos GAs. Não via, lá no fundo, nenhum entrave a isso a não ser a possibilidade de ter de dar aulas num PA: aquilo mais parecem salas de cinema, ia lá dar aulas numa coisa que nem parecia um anfiteatro clássico, à séria, como deve de ser. O que valia é que logo a seguir estava mais entretida a contar o número de dias que lhe faltavam para poder deixar de trabalhar. Sempre tinha sido assim boa em contas de cabeça, se tivesse sido professora estaria a dar assim as matemáticas ou parecido...
Um dia, enquanto entrava na casa de banho masculina do civil munida de balde e esfregona, ouviu qualquer coisa estranha vinda de um dos compartimentos: um chapinhar de água seguido de alguns resmungos de uma voz muito fininha de mulher que proferiam qualquer coisa no género de o que uma-e-fada tem de aguentar, conflitos num tal protocolo de passagem, e mais termos incompreensíveis. De qualquer modo, o que estava ali uma rapariga a fazer? Ela é que sabia, estes estudantes são todos uns idiotas, acham que podem fazer tudo... Ia lá descompor a miúda quando qual não é a sua surpresa ao encontrar uma fadinha desesperadamente tentando-se limpar debaixo de um jorro de água do autoclismo, repetidamente dizendo "Isto NÃO ESTAVA nos planos..."
Perante o ar perplexo de Rosa Maria, e vendo que já estava suficientemente lavada, ela apresenta-se. E explica que poderá mudar a sua vida, transformando-a naquilo que ela sempre quis ser.
Rosa Maria dá um pulinho e bate palmas : "LILI CANEÇAS??!"
Alle respond... AI, está bem, eu SEI que não temos intimidade para isso... bom, Allebirolf enche-se de paciência e, com um suspiro, responde "Bom... a seguir a isso..."
Rosa Maria pensa... "... Miss Portugal?"
"PROFESSORA!!!", bufa Allebirolf.
"Ah... era bom!", remata Rosa Maria com um sorriso de orelha a orelha. Caminhar para uma sala de aula com aquela porte imponente de uma Senhora Professora Doutoura Étecétraoura era algo apenas alcançável nos seus sonhos.
Allebirolf percebeu o que lhe ia na alma, e avisou-a desde logo que tal não seria possível. Ela teria de manter exactamente o seu aspecto, a sua roupa e as suas cordas vocais. Ela apenas poderia mexer no seu cérebro.
E o milagre aconteceu.
A vida ficou melhor para todos. Apesar de manter exactamente o mesmo aspecto e voz de quando limpava pavilhões, Rosa Maria é agora uma pessoa culta e formada, empunhando o Pau de Bater no Chão para Mandar Calar os Alunos no lugar da esfregona. Mudara de nome inclusivé e agora é a respeitável Prof.ª Dr.ª Amélia Bastos, professora de Cálculo Diferencial e Integral I na mesma faculdade onde o seu 'eu' antigo era empregado.
Quanto à sifada Allebirolf? A vida não poderia estar melhor. Finalmente conseguiu o seu Diploma de Fada, e encontrou o lugar perfeito para trabalhar: onde tem amigas fadas, ganha bem para se reformar mais cedo e poder pisgar-se para uma qualquer ilha tropical, e sobretudo onde não existe absolutamente nenhum valor artístico de qualquer espécie: os estúdios da Floribella.
antes do mais, bem vinda! =D
Então foi finalmente revelada a origem daquele ser estranho, ao qual já me dei ao (des)prazer suportar comentarios (e nao tenho CDI) lol